Desde 2001 elaborei uma teoria nova, que hoje já tem suficientemente sistemática para se dizer que é uma teoria. É uma abordagem razoavelmente nova, não só do desenvolvimento econômico e da macroeconomia do desenvolvimento, é um pouco mais que isso. É uma ideia e uma discussão sobre o problema econômico, político e social do desenvolvimento dos países de renda média, e isso aos poucos foi se tornando consistente e ganhou o nome de Novo Desenvolvimentismo. Mas o nome não tem muita importância, o que é importante é que nele eu digo que há uma economia política e uma macroeconomia. Devia ter também uma microeconomia, mas tem muito pouca coisa disso. Na ideia de economia política do desenvolvimento, talvez a coisa mais nova seja o fato de que a alternativa ao liberalismo econômico seja o desenvolvimentismo que eu proponho. Parece uma coisa muito esquisita. Mas eu costumo perguntar às pessoas qual a alternativa ao liberalismo econômico e a maioria tem que pensar duas vezes. Elas apresentam a social-democracia, mas isso é um regime político. Depois vêm com o keynesianismo mas este é um tipo de desenvolvimentismo ao meu ver. Falta uma palavra geral para isso e é esta a palavra geral que eu proponho e que nós precisamos. Tínhamos também o socialismo, mas o socialismo não é uma alternativa ao liberalismo econômico, socialismo é uma alternativa ao capitalismo, e o que a gente observa é que o capitalismo nasce desenvolvimentista. Como isso é possível? A forma default do capitalismo é o desenvolvimentismo, porque o capitalismo nasce na Inglaterra, no século XVIII, e é ali que se realiza e completa a primeira revolução capitalista com a revolução industrial. A Inglaterra forma o seu estado nação e faz sua revolução industrial. E isto se deu no quadro do mercantilismo e das monarquias absolutas. Ora, o mercantilismo é o primeiro desenvolvimentismo historicamente. Depois houve o liberalismo no século dezenove na Inglaterra, a partir de 1846, e durou pouco. Quando chegou 1929, houve uma grande crise, que foi a crise do liberalismo e a partir de então, depois do new deal e dos anos dourados do capitalismo, principalmente na Europa até meados dos anos 70, nós teremos o segundo desenvolvimentismo. A partir de 1980 nós temos o neoliberalismo, que está por aí, e que é, a meu ver, uma regressão. Isto é uma visão mais geral, a visão que eu chamo de economia política, mais macroeconômica, porque é uma visão voltada para a ideia dos cinco preços macroeconômicos. Quando Keynes criou a teoria macroeconômica e tornou a economia uma ciência, digamos aplicável, operacional, ele pensou, e todos os livros de macroeconomia pensam, em termos de agregados econômicos. Diferentemente da microeconomia, com a teoria dos preços dos bens de serviços, do trabalho, da força de trabalho, a macroeconomia seria a economia dos agregados, quer dizer, da renda nacional, do PIB, produto nacional, do consumo, do investimento, da poupança, da inflação. E eu digo, tudo bem, mas proponho uma macroeconomia um pouco diferente, a partir dos cinco preços macroeconômicos. Quais são os cinco preços macroeconômicos? A taxa de juros, a taxa de câmbio, a taxa de salários, a taxa de inflação e a mais importante de todas, a taxa de lucros. Vejo que a teoria econômica em geral deu muito pouca importância ao lucro, tanto a teoria econômica neoclássica quanto a Keynesiana. Quem dá importância aos lucros são os clássicos e evidentemente Marx. Ainda Shumpeter deu importância ao lucro, mas os outros tentaram esquecê-lo. Um segundo preço fundamental ao novo desenvolvimentismo é a taxa de câmbio, e é em relação à taxa de cambio que talvez as inovações sejam mais importantes. Hoje eu tenho uma teoria da determinação da taxa de câmbio em geral. E aí eu me pergunto por que um brasileiro aqui da periferia do capitalismo se mete a discutir uma teoria econômica geral, especialmente uma teoria da taxa de câmbio e do déficit em conta corrente, ou seja da conta corrente externa do país. E a explicação que dou é que nestes cincos preços macroeconômicos, o preço menos estudado foi o da taxa de câmbio, e para mim este preço é absolutamente estratégico e tem uma grande importância no desenvolvimento econômico, coisa que a teoria econômica não aceita. Se você pegar um livro texto de desenvolvimento econômico, não há ali nenhum capítulo sobre a taxa de câmbio, nem uma seção geralmente. Os livros de macroeconomia originalmente eram todos fechados, sem comércio exterior, de forma que foi só a partir do final dos anos 80 que a macroeconomia foi aberta e os textos passaram a incluir isso e passaram a ter a taxa de câmbio. Bom, a partir disso o que esta teoria vai dizer mais? Uma teoria só vale a pensa se tiver algo de contraintuitivo, e esta teoria vai dizer o seguinte: para que um país se desenvolva ele não deve ter déficit em conta corrente, não deve, portanto, buscar o financiamento externo. Financiamento externo só é interessante quando um país já está crescendo muito fortemente e aí a propensão a consumir diminui e a propensão a investir aumenta, e então a poupança externa, o endividamento externo podem ajudar. Fora disso, o endividamento externo essencialmente é um obstáculo ao desenvolvimento econômico. O Brasil teve um imenso crescimento de 1930 a 1980. A partir de 1980 parou de crescer. Parou em termos, teve uma espécie de semiestagnação. Passou a crescer 1% per capita, quando crescia 4%. Em todo o período anterior teve um grande desenvolvimento. De 80 para cá cresceu muito pouco. E qual a razão para crescer tão pouco? Aqui já estamos na tese fundamental deste. A razão fundamental é que, desde 1990, a sua taxa de câmbio está muito apreciada e, o que é muito importante, está apreciada no longo prazo. Por que isso é importante? Porque as causas dessa apreciação são a taxa de juros muito alta e uma “doença holandesa” não neutralizada. Essas duas causas tornam a taxa de câmbio apreciada no longo prazo, ou seja, durante vários anos. Percebe-se também que a taxa de câmbio tem um comportamento cíclico, ela tem uma depreciação, numa crise financeira há uma grande depreciação, depois aprecia, aprecia, depois passa vários anos apreciada, aí o país se endivida, as empresas se endividam e aí vem uma segunda crise financeira com nova depreciação e desse jeito a gente vai. Ora, quando isso acontece, os empresários, ou as empresas.